sexta-feira, 18 de setembro de 2009

NIETZCHE

Mestrando : Everson Carlos Andrade
Prof. Dra. Margareth Anne Leister
Disciplina : Direitos Humanos e Filosofia Política
UNIFIEO / Osasco
2009




Nietzche

Genealogia da Moral

Segunda Dissertação

¨Culpa¨. ¨má consciência¨ e coisas afins



O esquecimento é o guardião da porta, o zelador da ordem psíquica, da a paz, da etiqueta: com o que logo se vê que não poderia haver felicidade, jovialidade, esperança, orgulho, presente,sem o esquecimento.

Esse animal ( o homem) necessita esquecer e o esquecer ,é uma força,uma forma de saúde forte. O homem desenvolveu em si uma qualidade oposta, uma memória, com cujo auxílio o esquecimento é suspenso em determinados casos.

O homem precisou aprender a distinguir o acontecimento casual do necessário, a pensar de maneira causal, a ver e antecipar a coisa distante como sendo presente, a estabelecer com segurança o fim e os meios para o fim, a calcular, contar,confiar – para isso, quanto não precisou antes tornar-se ele próprio confiável,constante, necessário, também para si, na sua própria representação, para poder enfim,como faz quem promete,responder por si como porvir!.

Com ajuda da moralidade do costume e da camisa-de-força social, o homem foi realmente tornado confiável

O orgulhoso conhecimento do privilégio extraordinário da responsabilidade, a consciência dessa rara liberdade, desse poder sobre si mesmo e o destino, desceu nele até sua mais íntima profundeza e tornou-se instinto, instinto dominante , supondo que necessite de uma palavra para ele? Mas não há dúvida: este homem soberano o chama de sua consciência...

¨Grava-se algo a fogo, para que fique na memória: apenas o que não cessa de causar dor fica na memória¨. É o passado, o mais distante, duro, profundo passado, que nos alcança e que reflui dentro de nós, quando nos tornamos ¨sérios¨¨ . Jamais deixou de haver sangue, martírio e sacrifício quando o homem sentiu a necessidade de criar em si uma memória. ( o sacrifício dos primogênitos, as mais repugnantes mutilações, as castrações, por exemplo, os mais cruéis rituais contidos nos cultos religiosos, em sendo as religiões o nível mais profundo dos sistemas de crueldades.

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A dor é o mais poderoso auxiliar da mnemônica .Quanto pior de memória a humanidade, tanto mais terrível o aspecto de seus costumes; em especial a dureza das leis penais nos dá a medida do esforço que lhe custou vencer o esquecimento e manter presentes, nesses escravos momentâneos do afeto e da cobiça,algumas elementares exigências do convívio social.

Durante o mais largo período da história humana,não se castigou porque se responsabilizava o delinqüente por seu ato,ou seja, não pelo pressuposto de que apenas o culpado devia ser castigado – e sim como ainda hoje os pais castigam seus filhos, por raiva devido a um dano sofrido, raiva que se desafoga em quem o causou;mas mantida em certos limites e modificada pela idéia de que qualquer dano encontra seu equivalente e pode ser realmente compensado, mesmo que seja com a dor do seu causador. . De onde retira sua força esta idéia antiqüíssima,da equivalência entre dano e dor.
O devedor, para infundir confiança em sua promessa de restituição, para garantir a seriedade e a santidade de sua promessa, para reforçar na consciência a restituição como dever e obrigação, por meio de um contrato empenha ao credor, para o caso de não pagar,algo que ainda ¨possua ¨,sobre o qual ainda tenha poder, como seu corpo, sua mulher,sua liberdade ou mesmo sua vida (ou em certas circunstâncias religiosas, sua bem-aventurança, a salvação de sua alma, e, por fim,até a paz no túmulo: assim era no Egito, onde o cadáver do devedor, nem sequer no túmulo encontrava sossego diante do credor.)
Foi um progresso , que a Lei das Doze Tábuas decretasse ser indiferente que os credores cortassem mais ou menos nesse caso: - se cortam mais ou menos, que não seja crime

A equivalência está em substituir uma vantagem diretamente relacionada ao dano ( uma compensação em dinheiro,terra, bens de algum tipo) por uma espécie de satisfação íntima, concedida ao credor como reparação e recompensa – a satisfação de quem pode livremente descarregar seu poder sobre um impotente, o prazer de ultrajar, tanto mais estimado quanto mais baixa for a posição do credor na ordem social, e que facilmente lhe parecerá um delicioso bocado, ou mesmo o antegozo de uma posição mais elevada. Através da punição ao devedor, o credor participa de um direito dos senhores, experimenta, enfim, ele mesmo a sensação exaltada de poder desprezar e maltratar alguém como¨ inferior¨ . – ou então, no caso em que o poder de execução da pena já passou à ¨autoridade¨,poder ao menos vê-lo desprezado e maltratado. A compensação consiste, portanto,em um convite e um direito à crueldade.

Os conceitos morais de ¨culpa¨, ¨consciência¨, ¨dever¨, ¨sacralidade do dever¨,no início de tudo na terra, foi banhado de sangue e tortura.

Culpa e sofrimento, estão entrelaçados. O sofrimento é compensação para as dívidas não pagas. A vingança e a crueldade são uma satisfação, um grande prazer festivo da humanidade antiga. , e era um ingrediente de quase todas as suas alegrias.
Não faz muito tempo, não se podia conceber casamentos de príncipes e grandes festas públicas, sem execuções, suplícios ou talvez, um auto- de- fé, nem tampouco uma casa nobre, sem personagens nos quais se pudesse dar livre vazão à maldade e à zombaria cruel.
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O espírito de justiça é o do sentimento relativo. Quando realmente acontece de o homem justo ser justo até mesmo com os que o prejudicam ( e não apenas frio, comedido , distante, indiferente : ser justo é sempre uma atitude positiva)., quando a elevada, clara, branda e também profunda objetividade do olho justo, do olho que julga, não se turva sequer sob o assalto da injúria pessoal, da derrisão e da calúnia, isto é sinal de perfeição e suprema mestria – algo, inclusive , que prudentemente não se deve esperar, em que não se deve facilmente acreditar.

De ordinário, mesmo para as mais íntegras pessoas basta uma pequena dose de agressão, malícia, insinuação, para lhes fazer o sangue subir aos olhos e a imparcialidade sair dos olhos. O homem ativo, violento ,excessivo, está sempre bem mais próximo da justiça que o homem reativo; pois ele não precisa em absoluto avaliar seu objeto de modo falso e parcial, como faz, como tem que fazer o homem reativo.

Os genealogistas descobrem no ¨castigo uma ¨finalidade¨ qualquer, por exemplo, a vingança, ou a intimidação, colocam despreocupadamente essa finalidade no começo, como causa de origem do castigo, e – é tudo .

A finalidade do direito é a última coisa a se empregar na história da gênese do direito: pois não há princípio mais importante para toda ciência histórica do que este, que com tanto esforço se conquistou , mas que também deveria estar realmente conquistado - o de que a causa da gênese de uma coisa e de sua utilidade final, a sua efetiva utilização e inserção em um sistema de finalidades, diferem totalmente. De que algo existente,que de algum modo chegou a se realizar, é sempre reinterpretado para novos fins, requisitado de maneira nova, transformado e redirecionado para uma nova utilidade. , por um poder que lhe é superior; de que todo acontecimento do mundo orgânico é um subjugar e assenhorar-se , e todo subjugar e assenhorar-se , é uma nova interpretação, um ajuste, no qual o sentido e a finalidade anteriores são necessariamente obscurecidos e obliterados.

O castigo teria o valor de despertar no culpado o sentimento da culpa, nele se vê o verdadeiro instrumentum dessa reação psíquica chamada má consciência, remorso.
Justamente entre prisioneiros e criminosos o autêntico remorso é algo raro ao extremo, as penitenciárias e casas de correção não são o viveiro onde se reproduz essa espécie de verme roedor ... o castigo endurece e torna frio; concentra; aguça o sentimento de distância ;aumenta a força de resistência. Quando sucede de ele quebrar a energia e produzir miserável prostração e auto-rebaixamento, um tal sucesso, é sem dúvida ainda menos agradável que o seu efeito habitual: que se caracteriza por uma seca e sombria seriedade.

Os procedimentos judiciais e executivos impedem o criminoso de sentir seu ato, seu gênero de ação, como repreensível em si: pois ele vê o mesmo gênero de ações praticado a serviço da justiça, aprovado e praticado com boa consciência: espionagem, fraude, uso de armadilhas, suborno, toda arte capciosa e trabalhosa dos policiais e acusadores, e mais aquilo feito por princípio,sem o afeto sequer para desculpar, roubo , violência, difamação, aprisionamento, assassínio, tortura, tudo próprio dos diversos tipos de castigo – ações de modo algum reprovadas e condenadas em si pelos juízes, mas apenas em certo aspecto e utilização prática.

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... Algum dia, porém, num tempo mais forte do que esse presente murcho, inseguro de si mesmo, ele virá , o homem redentor,o homem do grande amor e do grande desprezo, o espírito criador cuja força impulsora afastará sempre toda transcendência e toda insignificância, cuja solidão será mal compreendida pelo povo, como se fosse fuga da realidade – quando será apenas a sua imersão, absorção, penetração na realidade, para que, ao retornar à luz do dia, ele possa trazer a redenção dessa realidade: sua redenção da maldição que o ideal existente sobre ela lançou. Esse homem do futuro que nos salvará não só do ideal vigente, como daquilo que dele forçosamente nasceria, do grande nojo, da vontade de nada, do niilismo, esse toque de sino do meio- dia e da grande decisão, que torna novamente livre a vontade, que devolve à terra sua finalidade e ao homem sua esperança , esse anticristão e antiniilista,esse vencedor de Deus e do nada – ele tem que vir um dia.



TERCEIRA DISSERTAÇÃO

O que significam ideais ascéticos?

¨ Descuidados , zombeteiros, violentos, assim nos quer a sabedoria: ela é uma mulher, ela ama somente um guerreiro.¨
Assim falou Zaratustra


O que significam ideais ascéticos? Para os fisiologicamente deformados e desgraçados ( a maioria dos mortais) uma tentativa de ver-se como bons demais para este mundo, uma forma abençoada de libertinagem, sua grande arma no combate à longa dor e ao tédio; para os sacerdotes, a característica fé sacerdotal, seu melhor instrumento de poder, e ¨suprema ¨licença de poder; para os santos, enfim, um pretexto para a hibernação, sua novíssima cupidez de glória, seu descanso no nada ( ¨Deus ¨) , sua forma de demência. Porém, no fato do ideal ascético haver significado tanto para o homem se expressa o dado fundamental da vontade humana, o seu horror ao vácuo;ele precisa de um objetivo.

Schopenhauer, um homem e cavaleiro de olhar de bronze, que tem a coragem de ser ele mesmo, que sabe estar só, sem esperar por anteguardas e indicações vindas do alto,tinha o ideal ascético diante da arte

Wagner compreendeu que com a teoria e inovação de Schopenhauer podia-se fazer mais para maior glória da música, isto é,com a soberania da música, tal como Schopenhauer a compreendia: a música separada de todas as demais artes, a arte independente em si, não como as outras artes, oferecendo imagens de fenomenalidade , mas falando a linguagem da vontade mesma, diretamente do abismo, como sua revelação mais própria, mais primordial, mais imediata. Com essa extraordinária elevação do valor da música , que parecia decorrer da filosofia schopenhaueriana , também a cotação da música subiu prodigiosamente: tornou-se um oráculo, um sacerdote,mais que um sacerdote, uma espécie de porta-voz do ¨em si ¨das coisas, um telefone do além – já não falava apenas música, esse ventríloquo de Deus – falava metafísica: como admirar que um dia falasse em ideais ascéticos? ...
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Ele receia a luz demasiado clara: por isso se resguarda de seu tempo, e do ¨dia ¨desse tempo. Nisto é como uma sombra: mais o sol se põe, maior ele fica.

Quanto à sua humildade, assim como suporta o escuro, suporta,também , uma certa dependência. , um certo obscurecimento. : mais ainda, ele teme ser incomodado pelo raio, recua ante a desproteção de uma árvore só e abandonada, na qual toda intempérie descarrega seu mal humor, todo mal humor sua intempérie.

Essa espécie de homem não gosta de ser perturbada por inimizades, tampouco por amizades: esquece ou despreza com facilidade. Parece-lhe de mal gosto fazer-se de mártir; ¨sofrer pela verdade ¨- isso deixa para os ambiciosos e heróis de palco do espírito, e para todos os que têm tempo para isso ( - eles, os filósofos, têm algo a fazer pela verdade) ... a palavra ¨verdade ¨lhes repugna: soa grandiloquente...

Todas as coisas boas foram um dia coisas ruins ; cada pecado original tornou-se uma virtude original. O casamento,por exemplo, foi por muito tempo uma ofensa aos direitos da comunidade; pagava-se uma sanção por ser tão imodesto e ter a pretensão de uma mulher só para si ( daí, por exemplo, o jus primae noctis ( direito da primeira noite) , ainda hoje, no Camboja privilégio dos sacerdotes, esses guardiões dos ¨bons costumes antigos¨) .

Os sentimentos brandos, benevolentes, indulgentes, compassivos – afinal, de valor tão elevado, que se tornaram quase os valores em si – por longo tempo tiveram contra si precisamente o autodesprezo: tinha-se vergonha da suavidade, como hoje se tem vergonha da dureza ( cf. Além do bem e do mal, §260 ) . A submissão ao ¨direito¨ : oh, com que objeção da consciência as estirpes nobres de toda parte renunciaram à vendetta ( vingança) e curvaram-se ao direito!

O ¨direito ¨foi por muito tempo,¨algo proibido ¨, um abuso, uma inovação, apareceu com violência, como violência, à qual somente com vergonha de si mesmo alguém se submetia.

Cada pequenino passo que se deu na terra foi conquistado ao preço de suplícios espirituais e corporais: toda essa perspectiva , ¨de que não apenas o avançar, não, o simples andar, o movimento, a mudança, necessitaram de seus inumeráveis mártires¨, soa hoje em dia tão estranha para nós. ¨Nada foi comprado tão caro ¨, como o pouco de razão humana e sentimento de liberdade que agora constitui nosso orgulho. É este orgulho, porém, que nos torna hoje quase impossível sentir como os imensos períodos de moralidade do costume , que precederam a ¨história universal ¨ como a verdadeira e decisiva história que determinou o caráter da humanidade : quando o sofrimento,a crueldade, a dissimulação, a vingança, o repúdio à verdade eram virtude, enquanto o bem-estar, a sede de saber, a paz, a compaixão eram perigo, ser objeto de compaixão era ofensa, o trabalho era ofensa, a loucura uma coisa divina, a mudança algo não ético e prenhe de ruína.
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subtraímos à odiosa pressão da vontade , celebramos o sabá da servidão do querer, a ¨roda de Íxion se détem...¨Que veemência das palavras ! Que imagens de tormenta e de longo desgosto! Que contraposição quase patológica entre ¨um momento ¨e a ¨roda de Íxion ¨, a ¨servidão do querer¨ e a ¨ odiosa pressão da vontade ¨ !

- Mas supondo que Schopenhauer tivesse mil vezes razão no que toca à sua pessoa , que se ganharia com isso para a compreensão da natureza do belo? Schopenhauer descreveu um efeito do belo, o efeito acalmador da vontade.

Para Stendhal,o belo promete felicidade, e o que ocorre parece ser precisamente a excitação da vontade ( ¨do interesse¨) através do belo. E não se poderia, por fim, objetar a Schopenhauer mesmo que ele errou em se considerar Kantiano , neste ponto, que de modo algum compreendeu kantianamente a definição kantiana do belo - que também a ele lhe agrada o belo por ¨interesse¨ , inclusive pelo mais forte e pessoal interesse, o do torturado que se livra de sua tortura? ... E, para voltar à nossa primeira questão, ¨que significa um filósofo render homenagem ao ideal ascético? ¨, eis aqui ao menos uma primeira indicação: ele quer livrar-se de uma tortura.

Schopenhauer tratava como inimigo pessoal a sexualidade, incluindo seu instrumento, a mulher ( instrumento do diabo) , necessitava de inimigos para ficar de bom humor, o fato de que amava as palavras furiosas, biliosas e de cor escura ;de que se enraivecia por se enraivecer, por paixão; de que teria ficado doente, teria se tornado um pessimista.

Existe, incontestavelmente, em todos os tempos, uma peculiar irritação e rancor dos filósofos contra a sensualidade. , existindo, igualmente, entre eles, uma peculiar parcialidade e afeição pelo ideal ascético.

O filósofo tem horror ao casamento. Qual grande filósofo foi casado? Heráclito, Platão , Descartes, Spinoza, Leibnitz, Kant, Schopenhauer não o foram; mais ainda, não podemos imagina-los casados.

Um filósofo casado é coisa de comédia . Essa é a tese,e a exceção é o malicioso Sócrates , que casou-se, ao que parece, por ironia, justamente para demonstrar essa tese.
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... quando alcançariam realmente o seu último, mais sutil, mais sublime triunfo de vingança? Indubitavelmente, quando lograssem introduzir na consciência dos felizes, sua própria miséria, toda a miséria, de modo que estas, um dia começassem a se envergonhar de sua felicidade, e dissessem, talvez, uns para os outros: ¨é uma vergonha ser feliz! Existe muita miséria! ¨...

... Um meio apreciado na luta contra a depressão , é a prescrição de uma pequena alegria, que seja de fácil obtenção e possa ser tornada regra; essa medicação é frequentemente usada , na forma mais freqüente , a alegria é assim prescrita como meio de cura , é a alegria de causar alegria ( ao fazer benefício, presentear, , aliviar, ajudar, convencer, consolar, louvar, distinguir) ; no fundo, ao prescrever ¨amor ao próximo¨, o sacerdote ascético prescreve uma estimulação, embora em dosagem prudente, do impulso mais forte e afirmador da vida: - da vontade de poder. A felicidade da pequena superioridade, que acompanha todo ato de beneficiar , servir, ajudar, distinguir, é o mais abundante meio de consolo de que costumam servir-se os fisiologicamente obstruídos.

Todos os doentes, todos os doentios, buscam instintivamente organizar-se em rebanho , na ânsia de livrar-se do surdo desprazer e do sentimento de fraqueza: o sacerdote ascético intui esse instinto e o promove; onde há rebanho, é o instinto de fraqueza que o quis , e a sabedoria do sacerdote que o organizou.

... os fortes buscam necessariamente dissociar-se , tanto quanto os fracos buscam associar-se, quando os primeiros se unem , isso acontece apenas com vista a uma agressão coletiva, uma satisfação coletiva da sua vontade de poder, com muita oposição da consciência individual, os fracos,ao contrário, se agrupam, tendo prazer nesse agrupamento.

¨Para que sofrer ¨? . O homem, o animal mais corajoso e mais habituado ao sofrimento , não nega em si o sofrer, ele o deseja,ele o procura inclusive, , desde que lhe seja mostrado um sentido , um pra quê , no sofrimento. A falta de sentido do sofrer , não o sofrer, era a maldição que até então se estendia sobre a humanidade – e o ideal ascético lhe ofereceu um sentido! Foi até agora o único sentido; qualquer sentido é melhor que nenhum. Nele, o sofrimento era interpretado; a monstruosa lacuna parecia preenchida; a porta se fechava para todo niilismo suicida. A interpretação, não há dúvida, trouxe consigo novo sofrimento, mais profundo, mais íntimo,mais venenoso e nocivo à vida: colocou todo o sofrimento sob a perspectiva da culpa... Mas, apesar de tudo, o homem estava salvo, ele possuía um sentido, a partir de então não era amais uma folha ao vento, um brinquedo do absurdo, do sem-sentido. Ele podia querer algo – não importando no momento, para que direção, com que fim, com que meio ele queria: - a vontade mesma estava salva. Não se pode em absoluto esconder o que expressa realmente todo esse querer que do ideal ascético recebe sua orientação : esse ódio ao que é humano, mais ainda ao que é animal, mais ainda ao que é matéria, esse horror aos sentidos, à razão mesma, o medo da felicidade e da beleza, o anseio de afastar-se do que seja aparência, mudança, morte, desejo, dever, anseio – tudo isto significa, , ousemos compreende-lo, vontade de nada, uma aversão à vida, uma revolta contra os mais fundamentais pressupostos da vida , mas é e continua sendo uma vontade!... E, para repetir em conclusão o que afirmei no início: o homem preferirá ainda querer o nada a nada querer ...¨ FRIEDRICH NIETZCHE

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